segunda-feira, 24 de abril de 2017

A gangorra

Uma imagem há muito tempo associada ao futebol do Rio Grande do Sul é a da gangorra. Como no brinquedo, seus dois grandes clubes, Grêmio e Inter, se alternam em ciclos hegemônicos em que enquanto um está no alto, o outro está encostado ao chão. Foi assim quando o Grêmio ganhou 12 campeonatos estaduais em 13 disputados entre os anos de 1956 a 1968. O fato repetiu-se no amplo domínio do Inter nos anos 70, e do Grêmio nas décadas de 80 e 90. Agora, no entanto, esse quadro já não se mostra como em outras épocas, e o Grêmio é o grande responsável por isso. O Grêmio está tendo, nos últimos anos, um desempenho pífio no Campeonato Gaúcho. Desde 2010, não vence a competição, e nas duas últimas edições foi eliminado nas semifinais. A disputa paralela da Libertadores não serve como desculpa, pois, em 2015, o Inter participou das duas competições, sendo campeão gaúcho e semifinalista no torneio continental. A verdade é que o Grêmio, ainda que não confesse, nutre um profundo desapreço pelo campeonato estadual e, por consequência, não consegue se motivar para a sua disputa. O final de 2016, com o Grêmio conquistando o título de campeão da Copa do Brasil e o Inter sendo rebaixado para a Segunda Divisão, apontava para a perspectiva de um novo ciclo hegemônico em azul, preto e branco. A eliminação no campeonato estadual, no entanto, com o Inter podendo chegar, pela segunda vez em sua história, ao título de heptacampeão, e obtendo bons resultados em outras competições, desfizeram, ao menos por enquanto, essa possibilidade. O Grêmio precisa repensar sua relação com o Campeonato Gaúcho. A impressão que se tem é a de que o clube só participa da competição em razão da excelente quantia paga pela emissora de TV que detém os direitos de transmissão. Os sucessivos fracassos nessa disputa, no entanto, comprometem a imagem do clube, e geram uma maior pressão por resultados em outras competições. Se seguir com sua postura negligente no campeonato estadual, o Grêmio permitirá ao seu maior rival um recurso permanente para escapar de crises maiores. Não há justificativa para um procedimento que em nada beneficia o clube, e que ainda auxilia o seu principal oponente.

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