sábado, 7 de setembro de 2013

Degradação

As drogas são um flagelo social, isso não é novidade para ninguém. A dependência gerada por elas leva indivíduos e famílias a deterioração física e moral. Porém, mesmo que já se tenha tomado conhecimento de histórias escabrosas sobre o assunto, é impossível não ficar estupefato ao saber que, num dos bairros mais pobres e "barra pesada" de Porto Alegre, o Bom Jesus, após uma denúncia anônima, Anderson Machado Fonseca, de 25 anos, foi preso em flagrante ao tentar vender seu filho, um bebê de 11 meses, por R$ 10, para adquirir drogas. Como pode alguém chegar a tal nível de degradação? A simples ideia de vender um filho, por qualquer razão, já é absolutamente nauseante. Fazê-lo por um motivo tão torpe, cobrando uma quantia irrisória, é uma demonstração de que não há limites para a queda do ser humano quando mergulha no abismo moral. Como é possível uma pessoa decair tanto a ponto de, em nome da satisfação de um vício, tentar desfazer-se de um ser que dele descende? Para quem, como eu, acumula muitos anos de vida, as baixezas humanas já não causam tanto espanto, por ter testemunhado ou sabido de várias, mas um fato como este é, simplesmente, aterrador. Uma sociedade em que existam pessoas capazes de um ato tão vil, é reflexo da falência de um modelo civilizatório. Na proposta capitalista, adotada no mundo ocidental, há o estímulo ao individualismo exacerbado, à busca do sucesso pessoal. Em contrapartida, afrouxam-se os laços familiares e sociais, perde-se a noção de solidariedade. Incentiva-se o consumismo, a satisfação de aspirações. Isso gera um quadro social dividido entre vencedores e perdedores. Estes últimos se tornam excluídos, marginalizados, engrossando os bolsões de miséria dos grandes centros urbanos. Não se pode ter nenhum tipo de indulgência para com um homem que tenta vender um filho por R$ 10 para comprar drogas, só se pode defini-lo como um monstro. Igualmente severo deve ser o julgamento de uma sociedade capaz de abrigar em seu interior alguém assim, pois é uma demonstração clara de que nela já se perdeu a noção do que seja dignidade. A apologia ao consumismo e ao individualismo leva à coisificação do ser humano. Não nos coloquemos, portanto, na cômoda posição de quem, diante do fato aqui enfocado, apenas o recrimine e dirija uma série de impropérios ao pai desnaturado. Um ser tão degradado só pode surgir numa sociedade que perdeu a noção de valores e o sentido coletivo. Se não começarmos uma faxina nos nossos conceitos civilizatórios, monstruosidades como esta se tornarão cada vez mais frequentes, e acabaremos vitimados por uma escória decorrente de uma humanidade que caminha sem rumo.

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