A punição ao futebol irreverente

A CBF se supera, a cada dia, na sua capacidade de ser patética. Motivada, certamente, por um lance recente do holandês Memphis Depay, do Corinthians, avisou que o jogador que subir na bola será punido, por considerar que o ato é "desrespeitoso", estabelecendo, assim, a punição ao futebol irreverente. Memphis Depay já se pronunciou, dizendo não entender a medida. Neymar também se manifestou, dizendo que o futebol está ficando muito chato. Tem razão. O futebol brasileiro, no seu auge, foi marcado pelo jeito "moleque" de muitos jogadores habilidosos, levantando a torcida nas arquibancadas. Garrincha, um dos maiores jogadores do mundo em todos os tempos, enchia de dribles os seus marcadores, e, se atuasse nos dias de hoje, possivelmente seria punido por seus lances endiabrados. O futebol, por mais que tenha se tornado uma indústria milionária, sempre terá uma porção lúdica, o que é uma das razões para despertar tantas paixôes. Punir a exuberância técnica, a malemolência, é ferir de morte o futebol brasileiro. A CBF deveria se ocupar com questões mais importantes, em vez de atentar contra a irreverência no futebol.

Erro decisivo

Uma situação que permanece imutável ao longo dos anos são os "erros" de arbitragem que favorecem o Inter, em diferentes competições. O Inter goleou o Cruzeiro por 3 x 0, hoje, no Beira-Rio, pelo Campeonato Brasileiro, beneficiado por um erro decisivo da arbitragem. Aos 20 minutos do primeiro tempo, num jogo que estava equilibrado e empatado em O x 0, o zagueiro Jonathan, do Cruzeiro, foi, injustamente, expulso. O árbitro Marcelo de Lima Henrique marcou falta sobre Wesley, do Inter, e expulsou Jonathan por considerar que se tratava de uma clara e manifesta chance de gol. Porém, a falta não ocorreu e, mesmo que tivesse acontecido, a clara e manifesta chance de gol não se caracterizou, pois havia outro defensor do Cruzeiro junto ao lance. Foi um erro monstruoso de arbitragem, que influi diretamente no resultado. Pouco depois da expulsão, aos 31 minutos, o Inter abriu o placar, e o Cruzeiro, obviamente, não conseguiu reagir. Tecer elogios à suposta qualidade do Inter, ignorando o quanto foi decisivo o erro de arbitragem, é uma atitude eticamente insustentável. O que aconteceu no Beira-Rio, hoje, foi vergonhoso, repugnante. A revolta manifestada pelo Cruzeiro é plenamente justificada.

Um trabalho sem futuro

O pior não foi a derrota, pois ela faz parte do jogo. O Grêmio perdeu para o Ceará por 2 x 0, hoje, no Castelão, pelo Campeonato Brasileiro mas, mais grave que o revés, foi constatar um trabalho sem futuro. O técnico do Grêmio, Gustavo Quinteros, mesmo com todos os descontos que se possa dar em seu favor, como o atraso na vinda de reforços, por exemplo, já deveria ter mostrado um desempenho mais convincente. Nos dois jogos anteriores, o Grêmio havia obtido vitórias, mas não atuara bem em nenhum deles. Os problemas defensivos seguem sem solução, em 17 jogos no ano, até agora, o Grêmio já levou igual número de gols. Taticamente, o técnico insiste em jogar com dois extremas, embora já tenha ficado exaustivamente comprovado que é um esquema que não funciona. Para tornar o meio de campo mais fortalecido na marcação, Quinteros coloca três volantes, mas abdica de ter um meia de criação, o que é inaceitável. Tudo porque Quinteros não admite a ideia de abrir mão de um dos extremas, que seria o correto a se fazer. Com jogos dificílimos nos dois próximos finais de semana, contra Flamengo e Inter, ambos na Arena, sem que o técnico encontre soluções ou tenha a humildade de rever conceitos, parece claro que a queda de Quinteros não deverá tardar a acontecer.

Começo tímido

Foi, aparentemente, um bom resultado, por ter sido fora de casa. O Inter empatou em 1 x 1 com o Bahia, ontem, na Arena Fonte Nova, no seu jogo de estreia na Libertadores, num começo tímido para um conjunto sobre o qual recaem tantas expectativas. Ao longo do jogo, o que se viu, de ambos os lados, foi muita ineficiência nas conclusões. As jogadas de ataque eram criadas, mas desperdiçadas. Muito em função disso, o primeiro tempo terminou sem gols. No segundo tempo, o panorama seguia o mesmo, até que, aos 28 minutos, Jean Lucas abriu o placar para o Bahia. A partir daí, tudo indicava que o Bahia venceria, mas, aos 39 minutos, o goleiro Ronaldo "bateu roupa" num chute cruzado, e Valência, que havia entrado um pouco antes, só teve o trabalho de empurrar a bola para as redes. O Bahia mostrou mais volume de jogo e teve um número maior de chances mas, novamente, foi vítima da sua baixa capacidade de aproveitamento das oportunidades criadas. O Inter escapou da derrota por pouco e, diante de mais uma atuação fraca de Borré, em contraste com a boa fase de Valência, parece claro que está na hora do colombiano ir para o banco e o equatoriano voltar a ser titular.

Sem novidade

Mais uma vitória inconvincente. O Grêmio venceu o Sportivo Luqueño (PAR) por 2 x 1, ontem, na sua estreia na Copa Sul-Americana, no Defensores del Chaco, em mais um jogo sem novidade, pois repetiu os seus desempenhos fracos das partidas anteriores. A exemplo do jogo anterior, contra o Atlético Mineiro, o Grêmio venceu o Sportivo Luqueño atuando mal, com enormes espaços na defesa, e até o placar foi o mesmo. Pela enésima vez, Jémerson e Pavón jogaram mal. O gol do clube paraguaio, inclusive, ocorreu após uma falha absurda do primeiro. Porém, o técnico do Grêmio, Gustavo Quinteros, continua a escalá-los, reiteradamente. O zagueiro Romagna, do San Lorenzo, deverá vir na "janela" de contrataçôes do meio do ano, mas, até lá, o Grêmio terá de utilizar Jémerson, Rodrigo Ely ou Gustavo Martins, o que pode custar muito caro ao clube, em termos de resultados. Estrear com vitórias em duas competições é muito bom, claro, mas o mau desempenho técnico, e os problemas táticos, como a insistência na escalação de dois extremas, não apontam para a perspectiva de continuidade dos bons resultados.

Equívoco

A julgar pelas declarações do técnico Gustavo Quinteros, o Grêmio já estabeleceu qual a competição que vai priorizar entre as que irá disputar até o fim do ano. Será a Copa Sul-Americana, o que é um equívoco. O técnico disse que a Copa do Brasil é importante pelo histórico do clube na competição, e por ser muito valorizada pela diretoria. Em relação ao Campeonato Brasileiro, falou que o Grêmio tem de fazer uma campanha melhor que a de 2024, o que, há de se convir, não é difícil, já que o clube terminou em décimo-quinto lugar. O desprezo do Grêmio ao Brasileirão é um erro que se repete a cada ano. Partindo do pensamento simplista de que a competiçào é muito longa e que a disputa com clubes de maiores recursos financeiros é desigual, o Grêmio privilegia as copas em geral, por serem curtas e, teoricamente, mais fáceis de vencer. No Campeonato Brasileiro, a busca é apenas por classificação para a Libertadores. Uma visão tacanha. O Brasileirão é muito mais relevante que a Copa Sul-Americana. O Grêmio conquistou o título da competição pela última vez em 1996, ainda na época do formulismo, um jejum longo demais e incompatível com a grandeza do clube. Afora isso, as copas não tem rebaixamento, o que ocorre no Campeonato Brasileiro. A ideia de que grupos limitados não tem chance de ganhar o Brasileirão é falsa, e o Corinthians de 2017 está aí para provar.